Fonte: https://www.otempo.com.br/
Por Paulo Campos
Celebração do aniversário da cooperativa é nesta sexta-feira (1) em Patrocínio; café do Cerrado já é vitrine de Minas para o mundo e pode virar patrimônio imaterial do Estado e do mundo
Nos 30 anos da Expocaccer, a Cooperativa dos Cafeicultores do Cerrado, que será celebrado nesta sexta-feira (1/9), em Patrocínio, a novidade é a participação ativa da entidade na construção de um novo roteiro turístico: a Rota do Café do Cerrado, que vai possibilitar aos turistas visitar os atrativos da cidade do Alto Paranaíba e as fazendas produtoras de café da denominada Região do Cerrado Mineiro (RCM).
“Hoje, o café do Cerrado não é um produto apenas para ser comercializado, exportado, mas um elemento cultural e gastronômico importante para nossa região. Queremos promover visitas às fazendas nos diversos períodos de safra. No momento, as cidades envolvidas estão se organizando para poder receber esses visitantes”, conta Simão Pedro de Lima, diretor-superintendente da Expocaccer.
De acordo com Renato Moreira Silva, analista e gestor de projetos do Sebrae Minas na microrregião de Patrocínio, a formatação da Rota do Café – Região do Cerrado Mineiro se encontra em estágio inicial. “Iniciamos uma consultoria especializada em turismo de experiência, no qual o objetivo é propiciar a vinda de turistas para vivenciar a experiência ‘Do Pé à Xícara’, desde a visita às fazendas com receptivo à degustação de pratos de chefs em restaurantes. O novo produto vai estimular o turismo de experiência na região e envolverá, nessa primeira etapa, quatro fazendas, hotéis e restaurantes de Patrocínio.
“Com isso, queremos fazer de Patrocínio, que já é o maior município produtor de café do mundo,, uma referência em turismo de experiência cafeeiro”, ressalta Silva. O primeiro passo será dado nos dias 6, 7 e 8 de outubro com a realização do Mínimo Produto Viável (MVP na sigla em inglês para Minimum Viable Product), um teste mais simples e enxuto para verificar se o produto está bem-construído ou precisa de correções. Se for aprovado, o lançamento da rota será na Festival de Turismo de Gramado (Festuris), em novembro.
No momento, o Sebrae MInas realiza consultorias para fazendas, hotéis e restaurantes locais para garantir toda a estruturação do projeto. Além da Expocaccer e do Sebrae Minas, participam da elaboração da rota entidades como a Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Patrocínio, a Associação Comercial da cidade, a Associação dos Cafeicultores da Região de Patrocínio (Acarpa), a Associação dos Pequenos Produtores do Cerrado Mineiro (Appcer) e a Secretaria de Cultura e Turismo de Patrocínio.
O segundo maior bioma brasileiro tem características muito peculiares: o verão é quente e úmido, e o inverno, ameno e seco. Além disso, a ótima altitude, o clima ameno, a topografia plana, as chuvas bem-distribuídas e o solo fértil corroboram para o plantio de café e proporcionam uma colheita de qualidade. Nesse terroir, produzem-se cafés com sabores que remetem ao chocolate e ao caramelo.
“Esse café apresenta ora notas cítricas e frutadas, ora florais. Tem muito semelhanças com a produção de vinho. Essas características vêm devido ao solo, ao clima e ao modo de plantio e resultam em um café de acidez moderada e doçura natural, o que dispensa o uso de açúcar e lhe confere um sabor inigualável”, fala Lima, com a experiência de quem atua no mercado cafeeiro do Cerrado Mineiro há mais de 40 anos.
Essas características inconfundíveis conferiram à Região do Cerrado Mineiro (RCM) a primeira do país a ser reconhecida como Indicação de Procedência (IP), em 2005, e ganhar o selo Denominação de Origem (DO), em 2013, homologado junto ao Instituto Nacional de Produtividade Industrial (INPI). “Isso significa que o nosso café não pode ser reproduzido em nenhum outra região”, explica Lima.
A a história do Cerrado Mineiro como produtor de café começou em 1972 começou em 1972, quando o Instituto Brasileiro do Café (IBC), extinta autarquia do Ministério da Indústria e Comércio, emitiu uma declaração formal de aptidão do cerrado para plantio de café. Neste ano, um grupo de produtores da região e outros que vieram do Paraná e São Paulo começaram o plantio das primeiras lavouras na região do Alto Paranaíba e Triângulo Mineiro.
Vinte e um anos depois, em 1993, nascia em um pequeno armazém no município de Patrocínio a Expocaccer, a Cooperativa dos Cafeicultores do Cerrado, com cerca de 50 cooperados. Hoje, cerca de 700 associados em 55 municípios produzem em 240 mil hectares cerca de 7 milhões de sacas anuais e exportam os grãos de cafés especiais para mais de 30 países em todos os continentes.
Toda essa história de sucesso vai ser relembrada nesta sexta-feira (1/9) em Patrocínio. Além de reverenciar os fundadores da entidade, a celebração lançará o novo posicionamento da marca Café do Cerrado. Pioneira em vários aspectos, a RCM vai mostrar que continua na busca pela excelência em cafés diferenciados a cada nova safra mediante práticas sustentáveis, identidade própria e pautada na inovação.
Sustentabilidade
Em relação ao Brasil e Cerrado mineiro representa entre 10% a 15% da produção total do país e 30% da produção mineira. Por conta de uma forte geada no ano passado, que afetou 35% da área cafeeira, a produção caiu para 4,3 milhões de sacas. Já 2023 será um ano de produção moderada, longe do recorde de 2020, quando foram produzidas 7 milhões e meio de sacas de café.
“Em 2022, Cerrado Mineiro alcançou a marca de 1 milhão de sacas comercializadas com o selo de Denominação de Origem e Qualidade”
A cotação do café no mercado também mantém níveis mais moderados de preços. Se antes da geada o preço estava a R$ 600 a saca e atingiu pico de R$ 1.500 a saca na geada, hoje estabilizou em R$ 800 a saca de 60 kg. “Nossa rentabilidade também é moderada, porque os custos de produção subiram muito, principalmente durante a pandemia”, salienta o diretor-superintendente da Expocaccer.
Durante a celebração dos 30 anos, a presença da presidente do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha-MG), Marília Palhares, representando o governo de Minas, levanta novo ânimo nos cafeicultores. O café do Cerrado pode ser mais um produto de Minas, como o Queijo Minas Artesanal (QMA), a trilhar o caminho para se tornar patrimônio imaterial do Estado e do mundo. “A Rota do Café do Cerrado é fundamental para tornar isso possível”, conclui Lima.